O despertador toca. Com uma certa agressividade de quem foi acordado e não gostou, ele soca o velho relógio com a mão esquerda. Se ele pudesse, nunca acordaria. Instintivamente, leva as mãos aos olhos, e os esfrega impacientemente. Como se esperasse por algo. Algo que ele saberia que nunca viria, ou retornaria. Se espreguiça, e levanta da cama com o pé esquerdo. Sem problemas. Superstições só funcionam se você acredita nelas. Ele deixara de acreditar em certas coisas, que só aconteciam em função do acaso.
Ele abre a janela. O tempo está nublado, mas alguns raios de sol conseguem atravessar as nuvens. E ele se lembra daquela tarde. Ele jamais esquecera aquele olhar penetrante, e mesmo assim delicado. O cheiro da chuva se confundia com o aroma de canela. O perfume era realmente encantador. A voz suave e clara. O abraço aconchegante.
E, embora ele tivesse esgotado suas forças para apagar essas lembranças, elas sempre retornam. Elas ficaram gravadas em baixo relevo no seu coração. Cortes que nunca seriam cicatrizados, até que ela voltasse.
Ele então fecha a janela bruscamente. Mal vai ao banheiro se lavar, veste o velho moletom, e sai caminhar. E ele reza. Pedindo sua volta. Ele sabe que ela virá. Os corações interligados ainda se comunicam, apesar de tanto tempo. E ele apenas pede, que ela volte a tempo. Ela vai voltar. E então, o sol vence, e dissipa as nuvens. Ele sorri, e se sente bem. Segue acreditando no seu único motivo. Na sua única razão para ter fé.
parte dois aqui
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